Uma família do bairro Bela Vista, em Águas de Lindoia, entrou para a triste estatística da Covid-19. Há uma semana, Geni de Oliveira Domingues, 46 anos, perdeu o pai Sebastião, de 85 anos, depois de mais de 20 dias dos primeiros sintomas da doença. Entre idas e vindas do hospital até a internação definitiva, ela, uma irmã e um irmão também ficaram doentes. Todos foram hospitalizados. O irmão está internado, entubado, há 20 dias no Hospital Ana Cintra, em Amparo.
Ela conta que o pai pegou o vírus no próprio bairro. Ele foi levado pela primeira vez ao hospital da cidade no dia 22 de maio por volta das 17h. Após tomar soro com medicamento, foi liberado, por volta das 21h30. Como os sintomas não melhoraram, os filhos o levaram mais uma vez ao pronto atendimento do hospital, no dia 25, onde novamente foi medicado e liberado. Na terceira vez que procuraram a emergência, no dia 27 de maio, o pai permaneceu internado. No dia seguinte, com síndrome respiratória grave aguda, Sebastião precisou ser entubado, e no dia 29, foi transferido para a UTI do AME Campinas, que atende apenas casos de Covid durante a pandemia. Ele faleceu na semana passada, no dia 16 de junho. O teste que confirmou a contaminação por Sars-CoV-2 foi feito em Campinas, segundo informou a filha. Geni conta que o pai fazia exames anuais na unidade de saúde de referência e que não tinha comorbidades.
Muito abalada e em isolamento em um dos cômodos da casa, onde mora com o marido e a filha de 7 anos, ela conta que revezou com o irmão o acompanhamento ao pai no hospital de Águas de Lindoia. Geni desconfia que, mesmo usando máscaras e adotando as medidas de higiene, eles tenham se infectado nesta ocasião, porque ficaram o tempo todo ao lado de Sebastião. Ela sentiu os primeiros sintomas no dia 31 de maio. Como estava no início da infecção, o teste rápido feito no posto de saúde deu negativo para Covid. Foi orientada a ficar isolada em casa. Sentindo-se pior, procurou atendimento particular. Depois retornou ao posto, onde fez um raio-x, e em seguida voltou a procurar a médica particular. No dia 9 de junho, sentindo-se mal, foi internada no hospital da cidade e, em seguida, transferida para o AME Campinas, onde ficou na enfermaria com suporte de oxigênio. Lá fez um teste, que colhe secreção do nariz e da garganta, confirmando que estava com o vírus. Ela recebeu alta no dia 13. Geni ainda permanece isolada em um quarto e por recomendação médica fará isolamento social até dia 8 de julho.
Sua irmã também foi para o hospital de campanha em Campinas e recebeu alta na última sexta-feira, dia 19. O irmão segue entubado, sem previsão de alta. Geni conta que, após o pai ser transferido, o irmão, que o acompanhava naquele dia, estava muito mal. “Meu irmão não saiu bem, passou na barreira [sanitária, onde uma equipe da prefeitura afere temperatura dos motoristas] com 40 graus de febre e foi orientado a ficar em casa. Deveria ter sido internado assim que procurou o posto. Gastou com exames e tomografia. Quinta [dia 04/06], ele passou muito mal no hospital e foi preciso transferência. Não tinha vaga no hospital de campanha e foi levado para Ana Cintra em Amparo”, conta.
Por conhecer de perto a tragédia que a Covid-19 pode causar em uma família, ela decidiu relatar sua dor como forma de alerta. Ela questiona uma série de procedimentos. “Se meu pai foi tratado como suspeito, ele deveria ter sido isolado, internado e medicado”, considera. “Meu pai foi entubado e meu irmão junto recebendo a carga de vírus. Impossível não ter pego”, questiona-se. “Até hoje não recebi nenhuma assistência social ou da vigilância da prefeitura para saber se preciso de algo. Estou aqui gastando com médico particular e exames particulares, gastando o que não posso. A prefeitura não entrou em contato comigo, nem com meu pai. Falaram que ia ligar para fazer monitoramento, mas ligaram uma vez só, quando eu já estava ruim”, desabafa.
Agora Geni aguarda o restabelecimento da saúde do irmão, ao lado do marido (que se certificou que pegou a Covid-19 por meio de um teste particular) e da filha (que apresentou sintomas leves, mas não fez teste). Ela está isolada e segue sem ter contato com os dois.
PREFEITURA
Sobre o acompanhamento dos casos positivos de Covid-19 no município, a Secretaria de Saúde informou que as equipes das unidades de saúde prestam todo o auxílio aos pacientes com suspeita ou confirmação da doença, seguindo as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS). As orientações sobre como proceder durante o isolamento domiciliar são transmitidas e os pacientes podem entrar em contato com as equipes em caso de dúvidas ou se houver agravamento dos sintomas.
Segundo a Secretaria de Saúde, o atendimento à paciente foi realizado no dia 02 de junho. “O teste de Covid-19 deu negativo. A médica de plantão fez pedido de exames de Raio-X e a solicitou para que a paciente retornasse no dia seguinte, o que não ocorreu. Uma semana depois a paciente relatou que havia passado em consulta particular e que necessitava de medicações de alto custo, que foram prontamente oferecidas. Após seguir para o Pronto Atendimento para a aplicação da medicação, a equipe médica refez o exame para Covid-19, que deu positivo, encaminhando-a diretamente para o Hospital São Camilo.”
Sobre isso Geni relata que: “Fui no posto de saúde, falaram que não era nada. Médica disse que teste deu negativo e que era para ficar isolada. Fui piorando e procurei médica particular, que deu remédio, mas piorou, não melhorou. Procurei o posto, fiz raio-x, mas a situação piorou. A médica particular passou injeção para tomar na veia, um antibiótico. Fui procurar o hospital, porque a injeção é de uso hospitalar, o hospital daqui não fornecia a injeção. Isso foi dia, 8 de junho. Fui para outra cidade, num pronto atendimento, tinha que ser aplicada no soro. Na terça-feira (09/06) fui atrás de uma vereadora para ter um atendimento no SUS. Em 20 minutos, ambulância estava aqui. Fui internada aqui, no hospital de Águas de Lindoia. Por influência da médica particular, fui para o hospital de campanha no dia 9 e fiquei até dia 13, no oxigênio.”
De acordo com a prefeitura, embora todo o suporte possível seja oferecido pela rede municipal, o paciente tem a liberdade de procurar a rede particular, como neste caso específico, e pode retornar normalmente para o sistema público se necessário, como também ocorreu.
Com relação à participação da assistência social, a Secretaria de Desenvolvimento Social informou que a paciente não solicitou atendimento até o momento, porém, todos os serviços permanecem à disposição pelo telefone 3824 2092. O mesmo é valido para o sistema de saúde (telefone 3824 1409), incluindo apoio de profissionais de outras áreas que sejam necessários para este momento.
TESTES PARA COVID-19
“A Secretaria Municipal de Saúde realiza o teste rápido nos pacientes sintomáticos (com síndrome gripal) a partir do oitavo dia de sintomas. O exame de RT-PCR (realizado com a coleta de secreção do nariz e garganta por meio de um cotonete), segundo o protocolo do Estado de São Paulo, está indicado para casos de síndrome respiratória aguda grave internados, além de síndrome gripal em profissionais de saúde, profissionais de segurança pública, pessoas com 60 anos e acima, pessoas com comorbidades e gestantes.
Cabe destacar que não há medicação comprovadamente eficaz para tratar a Covid-19. Portanto, os protocolos médicos tratam de amenizar os principais sintomas apresentados pelos pacientes. Por isso, a prevenção é fundamental. Reiteramos para que toda a população saia de casa apenas para atividades essenciais, evitem aglomerações, usem máscaras e mantenham a higienização das mãos.”