Paulo, ao se casar, combinou com a esposa.
Eles economizariam por vinte anos colocando o dinheiro na poupança.
Decidiram o gasto mensal mínimo ficando proibido aumentar despesa.
Viveram os anos como miseráveis.
A esposa, as vezes que saía às ruas, aparentava-se a uma pedinte.
O apuro aumentou com a chegada de seis filhos.
Um deles contraiu varíola e, sem cuidados, faleceu em plena infância.
Logo que possível, eles eram postos a trabalhar em qualquer serviço e se tornaram semianalfabetos.
Na maioridade, eram forçados a procurarem seu próprio caminho.
A família se resumiu a ele quando velho e a esposa com demência senil.
Paulo foi homem próspero reconhecido pelos gerentes do Banco.
Um deles o orientou a entrar no mercado de capitais e aplicar seu dinheiro em ações.
A fortuna se multiplicou sem esforço.
Certo dia, pouco antes dele falecer, um jovem se aproximou e perguntou:
– “Senhor Paulo, o que é preciso fazer para ficar rico como o senhor?”
– “Primeiro é ter inteligência só para o dinheiro e não perder tempo com mais nada.
Segundo, é ganhar dinheiro e não gastar um tostão passando fome por vinte anos. Passar mais vinte anos passando fome para não gastar o que ganhou. E por último, passar mais vinte anos brigando com os filhos para eles não te roubarem.
Com sessenta anos você vira homem rico”.
Essa fábula é baseada na vida real, o jovem curioso fui eu.
É possível tirar lição dessa história.
Para aquele que considera o “ter” fundamental e despreza o “ser” como coisa secundária, a história é exemplar.
Outro, ao contrário, a abomina e considera a existência humana como processo civilizatório ou humanizador que distancia dos instintos animais. Portanto, “ser” importa mais que “ter”.
Para o primeiro o dinheiro é o objetivo de vida.
Para o segundo o dinheiro é o meio para atingir objetivos humanos tais como estudar, se alimentar, adquirir cultura, cuidar da saúde e do lazer.
Há mais um tipo de pessoa para o qual “ter” ou “ser” não passa de vã filosofia.
São os “sem ter ou ser”, os que se encontram na pobreza.
No Brasil cerca de 50 milhões de brasileiros, equivalente a 25,4% da população vivem na linha de pobreza.
Segundo o critério do Banco Mundial são aqueles que têm renda familiar de R$ 387,07 ao mês.
A esses se soma outro agrupamento humano de 13,5 milhões de pessoas em extrema pobreza que sobrevive com 145 reais mensais (IBGE, 2019).
Esse contingente é recorde em 7 anos e tem crescido a cada ano.
O SIS (Síntese dos Indicadores Sociais) de 2017, comprovou mais uma vez que o Brasil continua um país de desigualdade das mais acentuadas do Planeta.
Graças à pandemia da Covid-19 o auxílio emergencial de R$ 650,00 mostrou-se efetivo contra a desigualdade econômica.
O programa de renda básica com repasse direto ao cidadão desafortunado é a solução do monstro da miséria que habita entre nós.
O Paulo da história contada no início é um nome fictício.
É referência a outro, Paulo Guedes, ministro da economia por se comportar de forma idêntica em relação à nação.
O próprio presidente do Senado Davi Alcolumbre, diz que Paulo Guedes é exagerado, pois além da responsabilidade fiscal (controle de gastos) tem que haver, também, responsabilidade social.
O ministro chega a ameaçar o Presidente de impeachment se romper o Teto de Gasto para atender a emergência social dos pobres.
O Presidente entendeu o recado de Guedes e declarou ontem à imprensa (13.08) que vai respeitar o Teto de Gasto, tranquilizando o mercado financeiro.
Deixa claro que há um poder superior ao dele, presidente da nação.
O poder magnífico é o sistema financeiro (mercado) que, como o Senhor Paulo em sua família, torna a nação miserável.
Durante a pandemia a economia entrou em decadência e a Bolsa de Valores bateu os melhores índices de todos os tempos.