WAKANDA PARA SEMPRE

A TV Globo exibiu na segunda-feira (31.08), o filme “Pantera Negra” em homenagem ao ator negro Chadwick Boseman falecido, recentemente, aos 43 anos de câncer intestinal.

A história se desenrola em Wakanda, uma imaginária nação africana superdesenvolvida que não sofreu exploração por ter escapado da colonização europeia.

T’Challa (Boseman) se torna rei quando, então, passa a ser chamado de Pantera Negra cujo grito de guerra é “Wakanda para sempre” (Wakanda Forever), feito com os braços cruzados sobre o peito.

Wakanda mantém em segredo uma mina de metal fictício, o Vibranium, que tem a capacidade de absorver todas as vibrações próximas.

O filme é de ação e se passa em dois momentos.

No primeiro, um bandido americano rouba (pleonasmo vicioso) um pedaço de Vibranium para vender para indústria americana de armamento.

No outro momento, um mestiço, filho de uma americana com um wakandense, se associa ao bandido para invadir Wakanda e tomar o poder do rei T’Challa.

Disto surge a guerra com vitória do Pantera Negra.

O rei T’Challa, no entanto, é homem pacífico.

Finda a guerra, ele passa a se dedicar de forma anônima às obras sociais nos Estados Unidos, é o final feliz da história.

O filme faz lembrar a história dos Panteras Negras na década de 1960 e seu líder, o negro Malcom X, do movimento de resistência armada contra a violência policial nos bairros americanos.

Aos poucos o movimento foi representado pelo pastor batista Martin Luther King e sua política de moderação levando os Panteras Negras a renunciarem à violência e a se dedicarem à assistência social nas comunidades negras.

Malcom X foi assassinado em 1965, Martin Luther King, também, em 1968 e o movimento dos Panteras Negras foi dissolvido em 1980.

Na vida real os negros foram derrotados tanto na luta armada de Malcom X quanto na proposta de paz de Martin Luther King e a violência racista continua no dia a dia americano.

Ela gera protesto como, recentemente, pelo assassinato do negro Georg Floyd sufocado pelo joelho de um policial branco ou Jacob Blake, baleado várias vezes pelas costas por um policial branco.

Essa tragédia social não é exclusividade americana; ocorre, também, em nosso país.

Os negros (pretos e pardos) são 75% dos mortos pela polícia e entre as vítimas de feminicídio 61% são mulheres negras.

A Taxa de Mortalidade por homicídio policial no Brasil é de 28 pessoas para cada 100 mil habitantes (Dados da “Rede de Observatórios da Segurança”. Estadão, 15.07.2020).

A grandeza impressionante desses dados pode ser comparada com a Covid-19 cuja Taxa de Mortalidade é de 12 óbitos para cada 100 mil habitantes.

A tragédia social brasileira e americana são semelhantes se vê pelas denúncias de rua e redes sociais como o “Black Lives Matter” (Vidas Negra Importam) nos Estados Unidos e o “Marielle Para

Sempre Presente” no Brasil.

Entre os brancos assassinados, (1 branco para cada 3 negros ou pardos), estão os miseráveis, pobres, índios, trabalhadores urbanos e camponeses.

O homicídio policial é predominante na classe social economicamente desfavorecida.

A violência vai além a cor da pele que faz parte de um quadro maior que é o preconceito de classe social.

Esse preconceito considera o índio como selvagem, os negros como incapazes, os brancos pobres como vagabundos e todos, socialmente, bandidos e perigosos.

É o sistema da economia do capitalismo que produz a estrutura social.

É essa estrutura que reproduz o preconceito de classe que inclui o racismo.

Trata-se de uma herança da escravidão e do colonialismo onde apenas os brancos bem sucedidos tem valor social e comandam as atividades políticas e econômicas.

Sobrou para o brasileiro comum não o braço erguido de punhos fechados dos Panteras Negras, nem os braços cruzados em sinal de força do Pantera Negra, mas enterrar seus mortos e fazer o sinal da cruz.