A escassez de água de abastecimento é uma piada e coloca no ridículo a fama da cidade.
O problema é visível, o reservatório do Lago Cavalinho Branco está seco.
O local é um cartão postal e, usado para a prática diária de caminhada ao redor, torna a crítica inevitável.
A causa, também, é evidente.
O total descaso como o ribeirão Água Quente que o abastece tem servido, ao longo do tempo, aos interesses financeiros de particulares embora seja um bem do município.
No trajeto, da nascente ao destino do Lago, encontram-se reservatórios totalmente assoreados, desativados e, ao lado, surgem as represas particulares vedadas à população.
A vegetação marginal, que protege a vida das nascentes e do leito d’água, foi completamente aniquilada.
O processo está a se tornar irreversível e decretará o fim do ribeirão em futuro próximo.
Restará ao Lago Cavalinho Branco, nos períodos de falta prolongada de chuva, a maquiagem de um espelho d’água para esconder a vergonha em que hoje se vê e salvar a paisagem.
Providência simples que, também, não se leva em conta e revela o descompromisso com necessária beleza permanente de uma cidade turística.
O ribeirão Água Quente é insuficiente para o abastecimento, todos sabem, mas não é justificativa para a calamidade ambiental praticada pelas construções civis desordenadas e pelo fogo que destrói a natureza.
O crime ambiental e o flagrante comportamento antissocial se manifestam, claramente, na contaminação do ar puro da estância pela fumaça e fuligem das queimadas recorrentes todos os anos.
O fogo é intencional e ateado por mãos humanas movidas por interesses mesquinhos da ambição enlouquecida.
Os locais de incêndio são os mesmos determinados, as adjacências do ribeirão condenado, o morro do Brejal e entorno do morro Pelado.
As ocorrências se passam como fatos normais na ausência de fiscalização que puna os infratores, o que contribui para o aumento da destruição ambiental.
Esse pequeno relato colhido da situação local não é de fatos isolados.
Eles estão ligados à realidade nacional e à mentalidade primitiva que tem florescido na nação nos últimos anos.
A nação voltou a viver como nos tempos coloniais.
Nesse tempo os senhores de engenho decidiam as regras locais e não a justiça dos homens.
O espírito colonial foi marcado pela indiferença com a população como hoje a pandemia sendo considerada uma gripezinha.
Havia tolerância com a morte dos negros e indígenas como hoje se tolera o assassinato policial de negros das periferias e de índios, quilombolas e caboclos das florestas por grileiros, madeireiros e garimpeiros.
A Mata Atlântica foi destruída (restam apenas 20% da mata original) pela retirada de madeira, espaço para os engenhos de cana de açúcar, plantio de café e pastagens para o rebanho bovino.
Destruição muito maior e mais cruel se vê, atualmente, no fogaréu da Mata Amazônica, Pantanal e parte do Cerrado promovida por vários agentes, madeireiros, garimpeiros, grileiros e indivíduos mal intencionados do agronegócio da soja e da pecuária bovina.
São eles os “senhores” do nosso tempo.
Tudo isso têm acontecido por irresponsabilidade do governo.
Ao permitir que o crime ocorra basta o método de não fiscalizar, o “abrir a porteira para o gado passar”, que se referiu o infame ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.
Além do desmanche dos órgãos de fiscalização ambiental com redução de efetivos pela metade (600 para todo território nacional), corte verbas da IBAMA, ICMBio e INPE que chega a 48%, o trabalho dos fiscais passou a ser criticado nos discursos do presidente Bolsonaro e do ministro Ricardo Salles.
Diante dos problemas a população dever se manifestar, denunciar e exigir, porque, como bem disse o Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”.