Conta de guardanapo
As dificuldades que o ministro Paulo Guedes tem apresentado para criar a Renda Cidadã faz lembrar o barão de Cotegipe.
O barão de Cotegipe foi presidente do Conselho de Ministros, uma espécie de Primeiro-Ministro do governo do Império.
Ele foi poderoso defensor dos interesses dos escravocratas em oposição extrema às ideias abolicionistas.
É possível comparar com Paulo Guedes.
Ele foi indicado pelo sistema financeiro e é extremado defensor da economia neoliberal.
A Princesa Isabel sancionou de pronto a Lei Áurea que libertou os escravos (13 de maio de 1888).
Dessa forma evitou as maquinações de Cotegipe que já havia votado contra no Senado.
Cotegipe ameaçou a Princesa: “Vossa alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”.
Guedes age igual.
Ao surgir a ideia de Renda Cidadã, disse: “Furar a regra de gasto do teto é o caminho para o impeachment”.
Suas palavras significam que o mercado financeiro tem força para exigir que deputados e senadores votem pelo impedimento do presidente.
Os senhores de escravos, depois do 13 de maio, se uniram no movimento “Republicanos de 14 de maio”, proclamaram a República e expulsaram a família imperial do país.
Escravo valia como dinheiro qual o dólar hoje e era a segurança do Capital.
A riqueza era avaliada pela quantidade de escravos que cada senhor possuía.
O teto de gasto é a segurança do Capital.
Disparado o maior volume de Capital aplicado no país está em ações da dívida pública, algo em torno de 86,5% do PIB.
A ideia do teto de gasto sugere que a economia é um sistema de escravidão, pois sujeita a nação aos interesses do sistema financeiro.
Pelo teto o governo está limitado aos valores de gastos do ano anterior corrigidos pela inflação.
Isso impede a solução de problemas cruciais da miséria que ultrapassa a 60 milhões de pessoas.
Conclusão os miseráveis não cabem no teto dos gastos públicos.
A Casa Grande, protagonizada pelo sistema financeiro, corre o risco de ganhar menos.
O chefe, em momento de lucidez, insiste na Renda Cidadã que beneficia a senzala.
Bolsonaro viu a popularidade aumentar com o auxílio emergencial e o caminho mais suave para a reeleição.
Guedes é incapaz de lidar com situação contraditória (Casa Grande x Senzala) procurou inspiração em Cotegipe.
É dele a lei que obrigou o escravo a indenizar o senhor com 3 anos de trabalho para ter direito à liberdade (Lei sexagenária, 1885).
Guedes produz, então, outra pérola do pensamento neoliberal (neoescravagista): os pobres financiam o programa da Renda Cidadã.
Os recursos seriam remanejados dos programas sociais existentes e dos benefícios dos aposentados e deficientes.
Bolsonaro, que de bobo só tem o B, notou que a solução é cobertor de pobre, cobre o rosto descobre o pé, pagaria o mico passando vexame.
Surge a declaração lapidar, incompleta, do presidente que ficará para a história: “Não vou tirar dos pobres para dar aos paupérrimos”.
Incompleta, pois deveria continuar o pensamento: “vou tirar dos ricos”.
Tomaria uma atitude típica de Princesa Isabel.
Já poderia tirar foto para postar ao lado de D. Pedro II, Princesa Izabel, Getúlio, João Goulart, Lula, Dilma, os eliminados pela ideologia escravagista de todos os tempos do Brasil.
A Casa Grande não existe mais na paisagem brasileira.
Existe sob a forma de poder mais forte que o poder de governo eleito pelo povo como acaba de acontecer com Bolsonaro.
A Abolição dos escravos não acabou com a mentalidade escravagista que predomina no Brasil, desde o Descobrimento.
O povo não entende o que acontece e se resigna como os negros na senzala.
Sem ter responsabilidade com a tremenda desigualdade do país, Paulo Guedes e equipe são apenas negociantes de dinheiro e juros.
Para calcular essa conta não é necessário mais que um guardanapo de papel.