O excesso de admiração que o presidente Jair Messias Bolsonaro demonstra pelos Estados Unidos merece atenção.
O modo característico do comportamento pessoal se chama “idiossincrasia”.
Nosso presidente apresenta sinais idiossincrásicos.
Interessa ater aos episódios relativos aos Estados Unidos da América.
Algumas ocorrências causaram escândalos, pois são inadequadas ao cargo que ocupa.
Nosso presidente bateu continência para a bandeira norteamericana.
Repetiu a saudação militar diante de John Robert Bolton, funcionário da Casa Branca, reconhecido defensor da guerra e intervenção americana em outros países.
Por não dominar a língua inglesa, foi inconveniente ao dizer “I love you” para Donald Trump.
A expressão traduzida “Eu te amo” deve ser usada por Melanie Knauss ao seu esposo Trump. Não pelo presidente do Brasil para o dos Estados Unidos.
É óbvio que há liberdade para manifestar seus modos pessoais.
Esse direito é vedado ao estadista ao representar um povo soberano.
A questão maior está na expressão de alinhamento político automático com os Estados Unidos prejudicando a neutralidade tradicional da diplomacia brasileira.
Automatismo não exige reciprocidade, não há regras de compensação usuais.
Na política externa Donald Trump segue o lema “America First” (Primeiro América), a ausência de compensação sugere o lema inverso, “Brasil Last” (Último Brasil).
Com esse ânimo Trump designou o Brasil a “aliado extra-OTAN” – (01.08.2019).
No dia seguinte nosso presidente se manifestou com entusiasmo adolescente e explicou a importância do acontecimento:
“Um país da Otan uma vez agredido, todo mundo está junto”.
O Brasil dificilmente será agredido restará aos nossos soldados tombarem no amplo cenário mundial de guerra norteamericano.
Na hipótese mais provável os Estados Unidos poderão estabelecer bases militares no nosso país, treinar nossos militares com novas tecnologias de guerra e, por fim, recrutar soldados e comanda-los no plano geoestratégico próprio.
Tais são as condições estabelecidas aos membros da OTAN.
Põe-se fim na tradicional neutralidade brasileira e no papel mediador da paz entre nações como o Brasil sempre se destacou.
Perdemos essa condição com a Venezuela ao reconhecer Juan Guaidó presidente autoproclamado daquele país seguindo os passos de Washington.
Recentemente, os diplomatas venezuelanos foram expulsos da embaixada e consulados brasileiros por decisão do presidente (30.04).
Tudo indica que o governo brasileiro está a realizar tarefas determinadas por Trump.
Criticado por desprezar o protocolo diplomático nacional o chanceler Ernesto Araújo recebeu o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, na fronteira entre Brasil e Venezuela (18.09.2020).
Mike Pompeo, como John Robert Bolton, é reconhecido “falcão”.
O termo é aplicado aos representantes norteamericanos que na política externa do país optam pela solução militar.
Mike Pompeo é favorável à invasão da Venezuela.
Pelas evidências veio para conferir as manobras militares na eventual invasão ao país vizinho.
O Exército realizava uma mega manobra militar a “Operação Amazônia” (de 4 a 23 de setembro de 2020) nas matas amazônicas.
O General Hamilton Mourão, vice-presidente da República, explicou que se tratava de coincidência com a vinda de Pompeo.
Porém, não excluiu a hipótese de mudança de estratégia das Forças Armadas que era a de não intervenção na Venezuela.
Ao não produzir a queda de Nicolás Maduro da presidência do país pela “guerra híbrida” (propaganda depreciativa, mentiras, aliciamento de opositores, bloqueio econômico, congelamento dos bens do país etc.), restará a intervenção militar e ao Brasil cumprir o seu papel.
Bolsonaro é dotado de “excessiva ambição financeira e compulsão pelo poder”, o perfil de sua personalidade foi descrito pelo próprio Exército (1980).
Toda sua formação, a partir dos 17 anos, se deu em escolas militares que idolatram os EUA desde a 2ª Guerra Mundial como país mais rico é poderoso do mundo
Com esses dados qualquer pessoa razoável é capaz de fechar o diagnóstico das causas da idiossincrasia presidencial.
E, sobretudo, a sua extrema utilidade para os interesses estratégicos dos EUA.