No modo simples de pensar do nosso povo talvez esteja a explicação para a democracia nas eleições municipais.
Como, por exemplo, quando ele diz: “Sabe o que a gente faz quando chove? Deixa que chova” ou, quando aconselha o que fazer diante da força difícil de vencer: “Corra de a par”.
O dilema no dia a dia do povo é a dependência.
Ele está sujeito à boa vontade, à proteção, ao interesse de outro para obter emprego, trabalho, colocação, serviço, autorização para atividade nas ruas e atendimento às necessidades da família.
As relações sociais e de trabalho na nossa sociedade, geralmente, seguem o padrão “patrão-empregado” que se repete desde a fundação da cidade.
O medo o impede para tudo, desde lutar por justiça social até, muitas vezes, buscar o próprio direito preferindo perder para sobreviver.
Dentro dessa história as eleições municipais majoritárias são entendidas como inúteis para ele, mais que isso, são perigosas.
Ele está convencido que ao se expor poderá ser marcado, excluído, perseguido pelo grupo vencedor como está escrito no seu livro de memórias.
Então, a maioria não se manifesta e “deixa que chova”.
Após a declaração dos resultados das eleições ele festejará com o grupo vencedor, é o “correr de a par”.
A democracia representativa, cujo significado é o poder do povo exercido pelo voto, é um ideal que está longe de ser alcançado.
Os números dão noção sobre o que acontece.
Somente, 10.821 eleitores compareceram para votar (o município conta com 14.816 eleitores).
Evidentemente, a pandemia é um fator que interferiu na votação.
Os votos brancos e nulos somaram 1.128 eleitores, número suficiente para eleger um vereador.
O prefeito se reelegeu com 6.797 votos que representam 45,87% dos eleitores.
A contagem feita pelos votos válidos (70,21%), causa a falsa impressão de representatividade.
Não há que se duvidar que o candidato eleito melhor expressou a vontade dos eleitores.
Mas, se deve levar em conta que 40,3% não votaram nele (abstenção, brancos e nulos)
A interpretação dos números e porcentagens, comparado a um exame de laboratório, daria como resultado “baixa representatividade”.
A democracia representativa em geral, não apenas em Águas de Lindóia, é uma utopia.
Ao eleito, convém ter a humildade de reconhecer essa realidade e entender sua representatividade como processo de busca durante a gestão de atendimento à necessidade da população como missão da democracia.
Há outros ângulos lindoienses a considerar.
Não houve na história da cidade governo municipal popular.
Os que galgaram o posto majoritário são, ou tiveram, consentimento prévio dos grupos econômicos locais que priorizam, e é normal, os próprios interesses.
Águas de Lindóia é cidade tradicional e conservadora.
Como tal, há grande dificuldade de mudança política e vem se mantendo através de representantes dos grupos econômicos.
A própria história da cidade pode ser contada em fases delimitadas pela hegemonia de famílias destacadas.
Não necessita conceituar essa democracia como sendo oligarquia.
É suficiente entender que na transição política o que se leva em conta é a pessoa que se candidata não projetos para a cidade.
A campanha política de Águas de Lindóia é personalizada.
Assim, deixa de lado os argumentos e se torna conflito de ordem pessoal.
Esse fato explica a campanha pelas redes sociais que se concentraram na desmoralização do candidato adversário.
Não houve candidato de esquerda nas eleições.
Não se ofereceu uma visão diferente da situação atual que a cidade se encontra.
Não houve discussão e debate sobre temas relevantes para o município.
As chapas concorrentes são de direita liberal, conservadora ou com pendores bolsonaristas de extrema direita.
A campanha oposicionista foi de apelo empresarial.
Deixado de lado temas cruciais para o município se manteve a tradição conservadora.
Pensou o eleitor, é melhor que fique em boas mãos.