Programa de Combate a Fantasmas
O ano de 2020 ficará marcado pela imposição de limites à liberdade das pessoas. Fechamento de fronteiras, restrição de circulação, quarentena, isolamento social, internação hospitalar, doença, morte foram fatos do dia a dia. As festas de final de ano não se realizaram. O Carnaval, previsto para 15 de fevereiro, foi suspenso.
O ano de 2020 serviu como lição.
O vírus ensinou que o ser humano não é o centro que comanda e tudo gira ao seu redor. Feito de carne e osso, o ser humano, é um animal mamífero subordinado às leis do equilíbrio da natureza, ele é natureza. Estão vivas na memória as tristes calamidades de Mariana e Brumadinho, as recentes queimadas no Cerrado, Pantanal e Amazônia, a pandemia de coronavírus ainda em atividade, entre tantas outras tragédias. Elas não cessam, em consequência, as expectativas são pessimistas.
Estão anunciadas alterações climáticas que põem em risco a vida no planeta, aparecimento de novos vírus mortais, grave crise social que já começa com 5,9 milhões de brasileiros passando fome, 55 milhões à beira da fome (Oxfam do Brasil) e 70 milhões que nunca mais encontrarão emprego.
Todas essas ocorrências são efeitos de atividade humana que entra em contradição com o mundo material ou com a vida do semelhante. Porém, há uma corrente de pensamento que nega. Nega a crise climática, nega as queimadas, nega a pandemia, nega a crise sanitária, nega o distanciamento social e uso de máscara, nega a vacinação salvadora, nega a tomar vacina, nega a ciência, nega a crise social, nega a desigualdade, nega o excessivo desemprego que se encaminha para uma crise humanitária.
São os negacionistas. Os negacionistas ressuscitam das trevas da Idade Média para defender a fé cristã como se estivesse em risco. Para eles é o maior problema da nação na atualidade. Esse pensamento é o alicerce do governo Bolsonaro e sua ala ideológica. Como as Cruzadas dos longínquos anos de 1.096 para defender os cristãos dos muçulmanos hoje estão a combater algo inexistente, o comunismo.
Deixa-se de lado problemas e necessidades concretas da nação. Esquece-se até do combate à corrupção principal lema da campanha da vitória. Dedicam-se, nas redes sociais e em declarações, à ladainha enfadonha do “perigo comunista”. O efeito na população causa outra tragédia, a imbecilização.
Aí está a cantora Elba Ramalho a declarar, no início deste ano, que o vírus foi introduzido pelos comunistas para liquidar com os cristãos. Com tamanha ignorância não é possível se chegar a um acordo. O cenário da nação é de tragédia e urgência ao ultrapassar 200 mil óbitos e 8 milhões de infectados pela covid-19 com mortes diárias superior a mil brasileiros.
Somente a vacinação é capaz de reverter esse quadro fúnebre e propiciar o retorno à atividade de vida normal. Nessas horas requer liderança do presidente em pronunciamento à nação para que todos sigam a segurança científica da vacina. Não se vê essa atitude presidencial, ao contrário, fala que não vai se vacinar.
Em uma de suas últimas declarações disse: “O Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada”. Assume a incompetência, mostra desconhecimento, reconhece que o comunismo não é o culpado da situação. O mercado financeiro, bancos e capitalistas do país tiveram suas riquezas aumentadas durante a pandemia. Deveria reconhecer o ateísmo da moeda para a qual o mercado financeiro é deus, a grande ameaça à nação.
Não pode comandar a cruzada contra esse parasita, pois foi quem o elegeu e o mantém no Planalto. Já que não consegue fazer nada resta executar seu único programa de combate a fantasmas e se tornar personagem patético da história.
Celso Antunes