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Cândida Pura, por Ismael Rielli

Cândida

Teófilo Vieira foi uma pessoa muito querida e respeitada em Lindoia.

A pronúncia de proparoxítonas para os mais simples, para os caipiras é bem mais difícil.

Teófilo (amigo de Deus) é, portanto uma palavra difícil de pronunciar e por isso virou Tiórfo.

A pensão do Tiórfo ficava bem no pé do morro, no coração da “Cidade Privilégio”. A única, a pioneira, quase sempre deficitária porque acolhia viajantes, gente que tinha e que não tinha como pagar. Ninguém que recorria ao Tiórfo ficava sem um prato de comida.

Muito querido, foi escolhido para gerente da filial do Banco de Serra Negra. Vocês sabia que Serra Negra já teve um banco?

Zé Ramalho trabalhava no banco, perto da padaria do Bepe.

Tiórfo conhecia e era amigo ou compadre de cada um dos correntistas e os atendia a qualquer hora, qualquer dia inclusive domingos e feriados.

Se, para fechar, com urgência, um negócio o compadre Chico Lopes ou Adolfo de Souza precisasse de dinheiro vivo, Tiórfo chamava o Zézinho, dava-lhe a chave e pedia-lhe:

– Abra o Banco e o cofre e dê o dinheiro que o compadre está precisado.

Tiórfo e Benedita tiveram 3 filhos e 2 filhas.

Humbertinho, casado com Leninha Fregonese.

Porfírio casado com Teresa Colli.

Paulinho da Deise da óptica.

Laurinha do Daud Ancona do bufê.

Cândida, do Capitão Aquino.

Além do Zé Faria, filho adotivo de papel passado, respeitado político Lindoiense.

Cândida fez o normal, magistério e foi abnegada professora em várias escolas.

Casou com Aquino, então cabo da PM, e tiveram 3 filhos de ouro.

A professora e o policial sabiam que o dinheiro que rende os mais altos juros é aquele aplicado na educação.

Por isso investiram nos três filhos.

Teófilo (afinal ele é amigo de Deus) geólogo respeitado da Vale do Rio Doce, com especialização na Austrália.

Paulinho, médico cirurgião da força pública no Barro Branco e na Santa Casa de Bragança.

Camila, veterinária, Abnegada mãe de meus netos.

Aquino, ao mesmo tempo que progredia na carreira militar, fez o curso de direito.

Foi comandante de destacamento em várias cidades até aposentar-se como capitão.

Aposentado, abraçou uma tarefa árdua, de grande importância, a construção do prédio do velório de Águas de Lindoia, o que lhe valeu, por nossa iniciativa (plural majestático) o título de Cidadão de Águas de Lindoia.

Notável, incrível a carreira da professora Cândida.

Ia, na charrete do Antônio Conti, dar aula na escola rural do Vargedo, fazenda do Cabrita, no Morro Pelado.

Ingressou, como efetiva, num arrabalde de Guarulhos pra onde, diariamente, se abalava, no ônibus das 6h; dava aula e retornava, chegando às 11h da noite, para ver os filhos dormindo e daí a pouco acordava pra nova jornada. Depois de sucessivas remoções, chegou ao Rizzo, no Sertãozinho, onde com sua candura ensinou e cativou uma legião de alunos.

Com a partida de Cândida, uma semana depois do primogênito Humbertinho – O caçula Paulinho e Porfírio já tinham partido – da família do Tiórfo Vieira só sobrou a despachada querida Tia Ló, a Laurinha do Daud.

Cândida fez juz ao nome: pura, meiga, dócil, amiga, humana, generosa.

Intimorata; não temeu; destemida, arrostou; aguerrida, guerreou; combativa, combateu; resignada, resignou-se com as vicissitudes que a vida lhe reservou, o que lhe permitiu conviver um convívio cheio de amor e carinho, ao lado do marido, dos filhos, noras e genro, sobretudo com os 6 netinhos que adoravam a meiga Vovó Cândida.

 

* Ismael Rielli, Águas de Lindoia. É professor aposentado, jornalista, escritor e ex-vereador. Tem atualmente um ponto de cultura no Sebo do Ismael, em Águas de Lindoia. * colaboração de Rodrigo Martins na revisão.

Veja também:

https://www.tribunadasaguas.com.br/2021/04/10/aos-mestres-com-carinho-por-ismael-rielli-homenagem-a-alfredo-bosi/

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