O QUE TEMOS, por Celso Antunes
Existe ainda na cidade a tranquilidade de tempos provincianos.
É óbvio, a cidade se modernizou da colônia de operários da Rua Santo Antônio, os casarões da família do Fundador, a Igreja de Nossa Senhora das Graças e a Fonte.
Pouco ou quase nada mais resta da Thermas antiga, somente o Bosque.
Até a década de 1950 a população vivia em comunidade. As pessoas se falavam, decidiam o que fazer, tomavam providências como família.
Problemas, ofícios religiosos, festas, tudo feito com recursos da comunidade.
Dona Aleta fazia o parto, Dona Gioventina orientava os doentes, Seo Firmino organizava a vida religiosa, Seo Zé Gomes cortava as bandeirinhas de decoração, as famílias dividiam tarefas para fazer a festa junina, os bailes operários eram animados por músicos da comunidade.
O costume das laboriosas professoras e professores não se perdeu.
Continuam a ensinar, a educar o futuro cidadão, a realizar festas escolares, a insistir na ligação do lar com a escola e o ponto alto, a comemoração da formatura dia da vitória de alunos, pais e mestres.
A geração falecida deixou filhos e netos que se recordam desse tempo no qual as mulheres cuidavam das crianças, da casa, os maridos partiam para o trabalho e as famílias eram unidas.
A comunidade desapareceu e surgiu a sociedade depois da década citada.
A vida da maioria dos lindoienses se resumia em emprego, dependiam de salário.
A quantidade de empregos é difícil de se saber para a população em crescimento.
O desemprego virou fantasma constante, antes da pandemia a população ativa já contava com apenas 40% da população (IBGE).
O desemprego é o principal causador das atividades informais, diaristas, faxineiras, passadeiras, bicos, freelancers, cuidadoras, sem carteira e INSS.
“Doméstica, Do Lar”, como antigamente se registrava em documentos, mudou para “Empregada Doméstica”.
As creches se tornaram vitais para as mulheres em busca de trabalho para ajudar ou manter as contas da casa.
Professoras e professores se tornaram imprescindíveis nos cuidados de crianças e adolescentes na ausência dos pais.
A grande maioria dos lindoienses necessitam trabalhar e precisam de creches, da escola, do SUS, de amparo do governo em merenda, cesta básica e auxílios de várias naturezas, dependem do Estado.
Em nossa cidade calcula-se que a população ativa tenha se reduzido para menos de 30% com perda próxima a mil postos de trabalho.
Ao ligar a TV e ver a fome e a miséria nas favelas da periferia das grandes cidades tem se a impressão que se está livre desse mal.
Aqui o mal social está presente de forma invisível, pois é fragmentado, pulverizado por todos os cantos da cidade.
A evidência está no socorro às famílias necessitadas que prestam entidades religiosas, sociedades civis e voluntários na aquisição de alimentos, produtos de higiene e limpeza e objetos domésticos intensificados nos últimos tempos.
A solidariedade despertada é o espírito da vida comunitária e não da sociedade em que a pessoa recebe se produzir.
A aparente vida tranquila é um manto a cobrir a miséria de conterrâneos, pois o que já estava ruim piorou muito com a incompetência.
O Estado não pode diminuir e reduzir sua atuação, pois é obrigação do Governo socorrer a população na crise sem data para terminar.
É urgente definir a estratégia para a grave situação social.
É, mas não será feito, pois o negativismo não conseguiu nem mesmo elaborar o cronograma da vacinação até o momento.
Nada pode-se esperar da incompetência.
Paulo Guedes, ministro da Economia, aconselha o brasileiro a parar com a mania de querer viver 100, 120, 130 anos.
Nesse caso, a morte na pandemia foi um bem para a economia do Brasil. É o que temos.
*Celso Antunes, Águas de Lindoia (SP), escreve toda semana neste espaço.
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https://www.tribunadasaguas.com.br/2021/05/01/balneario-alma-da-cidade-por-celso-antunes/