Datafolha: 40% dos estudantes podem abandonar a escola na pandemia

Uma pesquisa do Datafolha aponta que 40% dos estudantes da educação básica correm risco de abandonarem a escola por causa da pandemia. A pesquisa foi feita com pais e responsáveis de estudantes da rede pública, encomendada por Fundação Lemann, Itaú Social e BID.

Segundo os dados apurados pelo Datafolha, o percentual de estudantes que não está evoluindo nos estudos, não está motivado e que manifestou possibilidade de desistir da escola, apesar de terem acesso a atividades remotas, aumentou 14 pontos percentuais em um ano (de 26%, em maio de 2020, para 40%, em maio de 2021).

O problema é ainda mais grave entre estudantes negros (43% estão no grupo de risco de abandonar a escola; entre os brancos, o percentual é de 35%), em famílias com renda mensal de até um salário mínimo (48%) e de áreas rurais (51%).

A pesquisa do Datafolha aponta que os efeitos da pandemia na alfabetização também são preocupantes. Segundo percepção dos pais e responsáveis, 51% das crianças não aprenderam nada novo ou desaprenderam o que sabiam; a maioria estava começando a ler e escrever.

Datafolha

 

Fonte: Datafolha/Fundação Lemann, Itaú Social, BID

Pandemia

Mais de um ano depois do início da pandemia de Covid-19 no Brasil, pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e BID mostra dados preocupantes sobre educação a partir da perspectiva das famílias. Para pais e responsáveis, 40% dos estudantes da educação básica não estão evoluindo na aprendizagem, não estão motivados e admitem que podem abandonar os estudos.

Os números também evidenciam as desigualdades históricas do país, agora aprofundadas pela pandemia: enquanto 43% dos estudantes negros estão no grupo de risco de abandonar a escola, esse número cai para 35% entre os brancos. Em relação às diferenças socioeconômicas, o problema afeta quase metade dos estudantes das famílias que vivem com apenas um salário mínimo, em contraste com os 31% daquelas com renda entre dois e cinco salários mínimos. O risco é ainda maior nas áreas rurais (51%) do que nas urbanas (39%) e incide mais na região Nordeste (50%) do que na Sul (31%).

Outro ponto relevante da pesquisa diz respeito ao impacto da pandemia na alfabetização. De acordo com os pais e responsáveis, 88% dos estudantes matriculados no 1º, 2 º e 3 º ano do ensino fundamental estão em “processo de alfabetização”. Dessa proporção, mais da metade (51%) das crianças ficou no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprendeu nada de novo (29%), ou desaprendeu o que já sabia (22%), segundo a percepção dos responsáveis.

Mais uma vez, as desigualdades chamam atenção. No Nordeste, 28% dos familiares disseram que a criança desaprendeu, enquanto no Sul esse percentual é de 17%. A pesquisa mostra ainda que 57% dos estudantes brancos aprenderam coisas novas durante a pandemia na percepção de seus responsáveis – índice que cai para 41% entre os negros.

“O efeito de longo prazo da Covid-19 no Brasil será na educação. Uma geração inteira ficará profundamente marcada pela pandemia e o Brasil precisará de múltiplas ações para superar as perdas de aprendizagem. Isso deve ser prioridade para o país”, afirma Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.

 

Reabertura de escolas e desigualdades

Segundo os pais e responsáveis entrevistados, apenas 24% dos estudantes tiveram as escolas reabertas (mesmo que parcialmente), mas na região Norte esse índice é ainda mais baixo, de apenas 6%. Somente 16% dos estudantes de baixo nível socioeconômico tiveram escolas reabertas, ante 38% daqueles que estudam em unidades de alto nível socioeconômico.

Outro dado do Datafolha mostra que, entre os estudantes que tiveram a escola reaberta, 40% não foram para a aula presencial. O principal motivo para isso foi algum fator ligado à pandemia. No retorno às escolas, 63% dos estudantes estão sendo avaliados para identificar as suas dificuldades, mas só 29% estão recebendo aulas de reforço.

Entre os estudantes que têm aulas a partir de casa, a dificuldade de manter a rotina aumentou de 58% em maio de 2020, para 69% um ano depois. O aumento foi em todos os ciclos, sendo mais expressivo entre as crianças dos anos iniciais (1º ao 5º ano do ensino fundamental) e da região Nordeste (que passou de 58% para 74%).

Foto: Divulgação

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