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FIM AO DEIXA ESTAR, por Celso Antunes

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FIM AO DEIXA ESTAR

A cidade estava em festa. Na Estação cidadãos se acotovelavam aguardando a chegada do Imperador Pedro II, em 1886.

Ele visitava Poços de Caldas para inaugurar a extensão da linha ferroviária Mogiana construída para facilitar a vinda de hóspedes para aquela estância.

Stélio Marras deixa claro em sua obra “Águas Virtuosas” (2004), que o povo acreditava nos poderes sobrenaturais do Imperador que transferidos para as águas as tornavam milagrosas.

No tempo de reis e imperadores havia a imaginação de que os soberanos eram diferentes. Eles tinham um corpo natural e outro sobrenatural, eram divinos.

Essa ladainha os garantia governar o povo.

O Mito do presidente vem do costume dessa época medieval, mas a imaginação ao ressurgir no tempo de hoje somente pode ser explicada por manifestação de distúrbios mentais.

O próprio D. Pedro II, estadista, culto, de mentalidade científica e homem simples, um sábio, era contra qualquer superstição ou endeusamento.

O Imperador, dando continuidade à sua visita, recusou a condução que o levaria ao Paço Municipal e seguiu a pé.

Ao caminhar, um fato estranho chamou a atenção de todos naquele dia, D. Pedro II, o Imperador, usava uma calça remendada.

Essa narrativa tem simbolismo forte que ajuda a entender o significado da água medicinal.

A virtude está em curar doentes independentemente da condição social, o soberano tem valor humano igual ao remendado.

Esse pensamento aplicado ao nosso Balneário explica que ele deve ser entendido pela filosofia do SUS, pois ele se integra e complementa em tratamento de saúde, é um bem social.

O poder curativo das águas era conhecido pelo Imperador.

A atividade balneária era desenvolvida na Europa, ele visitou algumas cidades balneárias despertando-lhe interesse em desenvolvê-la em solo pátrio.

Dezoito anos antes da visita a Poços de Caldas (1868), Isabel, sua filha e o marido Conde D’Eu já tinham estado em Caxambu-MG para tratamento de infertilidade com resultado positivo.

A ligação da família Imperial com as Estâncias balneárias do Brasil está em relatos de vários momentos da história.

Chega-se à conclusão que o Governo está presente nas Estâncias brasileiras desde sua origem.

O vínculo com o Governo se perpetuou em todas as épocas chegando aos dias de hoje.

A Estância é uma cidade de natureza particular que depende de verbas estaduais e federais para se manter nessa condição.

É proibido às Estâncias a existência de indústria que é a grande fonte geradora de empregos.

A atividade balneária não é lucrativa, como não é todo segmento em Saúde a que pertence, é economicamente inviável.

A finalidade balneária não é financeira, mas a cura de moléstias, a recuperação do equilíbrio físico e mental, o auxiliar do bem estar social como virtudes que fazem a Estância incomparável diante os insalubres centros industriais.

Por outro lado, as Estâncias são oásis de tranquilidade no deserto de desumanidades a que o brasileiro está submetido.

Indústrias e empresas que consomem a vida do trabalhador deveriam oferecer estação de veraneio aos funcionários mediante convênio com o município.

As categorias profissionais deveriam criar colônias nas Estâncias para seus membros, como temos já as dos professores e servidores estaduais.

O Governo Federal e Estadual deveriam dar incentivos para que esses objetivos fossem alcançados.

O poder municipal necessita incentivar atividades laborais paralelas como engarrafamento de galões da água, desenvolvimento de artesanato característico, agricultura orgânica entre outros, somando ao turismo ecológico o turismo de compras.

Evidentemente, não estamos falando do Brasil real, da desigualdade e da falta de Educação, apenas sonhamos com um projeto.

No Brasil real de hoje só tem valor o pensamento financeiro, pessoas não importam a ponto de se tornar um imenso cemitério.

Em consequência as Estâncias, sem exceção, se encontram em decadência, correm risco de paralisação da atividade de balneário-terapia e agravamento da crise de desemprego local.

Para mudar esse quadro tem que mexer, manifestar, sem iniciativa da população nada sai do lugar e nada se consegue.

O deixa estar para ver como é que fica é tapear a si mesmo, é o autoengano que precisa ser eliminado.

 

*Celso Antunes, Águas de Lindoia (SP), escreve toda semana neste espaço.

 

Leia também outras crônicas de Celso Antunes:

https://www.tribunadasaguas.com.br/2021/06/20/cobertor-de-pobre-por-celso-antunes/

 

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