Chancela é aguardada para ocorrer até 31 de julho e pode garantir o 23º bem brasileiro em lista de patrimônios mundiais. local sintetiza a obra de Burle Marx
Legado do paisagista brasileiro que criou o conceito de jardim tropical moderno, o Sítio Roberto Burle Marx (SRBM) poderá ser chancelado como Patrimônio Mundial na 44ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, que ocorrerá de 24 a 31 de julho. Transmitida de Fuzhou, na China, a reunião do Comitê da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aconteceria em 2020, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19.
O SRBM pode ser chancelado na categoria Sítio Cultural, que reconhece espaços de valor universal excepcional para a cultura da humanidade. Localizado na Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), o espaço de 407 mil metros quadrados de área florestal, abriga uma coleção com mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais.
“O Sítio Roberto Burle Marx foi o ‘laboratório de criação’ onde foram desenvolvidos o repertório botânico e a experimentação paisagística que viabilizaram a produção do novo paradigma no campo do paisagismo, o jardim tropical moderno. Por isso, e também por reconhecermos a eloquência dessa extraordinária obra de arte como discurso formal a favor da proteção do meio ambiente e da valorização da flora tropical, acreditamos na pertinência de sua inscrição como patrimônio cultural em nível mundial”, ressalta a diretora do SRBM, Claudia Storino.
Jardins, viveiros de plantas, sete edificações e seis lagos integram este espaço singular. A propriedade também guarda um acervo museológico de mais de três mil itens, formado por coleções de arte cusquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira.
Maior e mais importante registro da obra de Burle Marx, o Sítio recebe cerca de 30 mil visitantes por ano. Conhecido internacionalmente como um dos mais relevantes paisagistas do século XX, Roberto viveu no Sítio entre 1973 e 1994. Nestes 20 anos reuniu plantas de diversas partes do mundo na propriedade, algumas em risco de extinção.
Todo esse conjunto acaba de passar por uma vasta requalificação como parte do processo para concorrer ao título de Patrimônio Mundial. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu aproximadamente R$ 5,4 milhões em intervenções para valorizar espaços de visitação, implementar medidas de acessibilidade, ampliar o acesso público e potencializar ações de pesquisa.
Fruto de parceria firmada entre o Iphan e o Intermuseus, associação civil sem fins lucrativos (Oscip) que idealizou e executou o projeto, a requalificação se iniciou em outubro de 2018 e foi concluída em fevereiro de 2021. A requalificação também integra o processo da candidatura.
Em defesa da identidade natural do país, Burle Marx introduziu o uso de espécies nativas brasileiras em seus projetos paisagísticos. O conceito de jardim tropical moderno, seu modelo de inovação, foi um marco divisor na história do paisagismo mundial. Influência do movimento Modernista, o artista impactou de modo decisivo a criação de paisagens, as artes monumentais e o planejamento urbano, mundo afora.
O Sítio é uma unidade especial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo.
Etapas da candidatura
O processo de construção de candidatura começou com a inscrição na lista indicativa brasileira a Patrimônio Mundial, em 2015. Desenvolvido pelo Iphan, o dossiê final do Sítio Burle Marx foi entregue à Unesco em janeiro de 2019. O documento defende o valor da propriedade como laboratório botânico e paisagístico.
Ainda em 2019, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) realizou uma missão de avaliação no Sítio. A visita se desdobrou no relatório final, que irá subsidiar a análise do Comitê do Patrimônio Mundial. Todo este trabalho culmina agora na etapa final, quando a chancela do Sítio será definida em votação.
O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, destaca que o Sítio Roberto Burle Marx é um importante Patrimônio Cultural brasileiro tombado pelo Iphan, e a sua inscrição como Patrimônio Cultural Mundial reforçará sua importância também para o mundo.
“Se confirmada, a chancela representará o reconhecimento sobre a importância do Sítio também para a humanidade, aumentando os compromissos com a sua proteção, conservação e gestão, o que deve atrair ainda mais visitantes para conhecer este, que é um dos mais importantes registros da influência e da obra do artista Roberto Burle Marx, que foi um dos maiores representantes do modernismo brasileiro nas áreas das artes e do paisagismo”, disse Machado Neto.
O título da Unesco cria um compromisso internacional de preservação do local. O planejamento de gestão compartilhada do sítio envolve diversas representações locais e define a matriz de responsabilidades de todos os parceiros. O plano mapeia riscos e aponta ações para minimizar possíveis ameaças ao valor universal excepcional do SRBM. Se a candidatura for chancelada, será o 23° bem brasileiro a integrar a lista de sítios de excepcional valor universal.
“Caso o Sítio receba o título, a chancela estabelece um compromisso para manter os valores excepcionais que tornam esse lugar de importância para toda a humanidade”, explica a presidente do Iphan Larissa Peixoto. “Temos a missão de preservar para as futuras gerações este espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento sobre natureza, paisagismo, arte e botânica”, acrescenta.
A história do Sítio
Em 1949, Burle Marx e seu irmão Guilherme Siegfried compraram o imóvel com a finalidade de abrigar coleção botânica, testar novas associações de plantas e cultivar mudas. A partir de então, a casa foi sucessivamente reformada e ampliada; foram construídos o Salão de Festas (conhecido como Cozinha de Pedra), a Casa de Pedra, o Prédio da Administração e o Ateliê; bem como a restauração da Capela da Bica.
No ano de 1985, Burle Marx doou o sítio ao governo federal a fim de assegurar a continuidade das pesquisas, a disseminação do conhecimento adquirido e o compartilhamento daquele espaço único com a sociedade. Após a morte do artista em 1994, o sítio passou a ser gerido pelo Iphan e se tornou um centro cultural.
O legado de Burle Marx
Nascido em 1909, em São Paulo, Burle Marx foi criado no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1994. Com milhares de projetos espalhados pelo mundo, concebeu paisagens de grande destaque no país, como os jardins do Complexo da Pampulha, em 1942; o jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954; o paisagismo do Aterro do Flamengo, em 1961; os jardins da sede da Unesco, em Paris, e o famoso traçado do “calçadão” de Copacabana, em 1970.
Burle Marx foi responsável pelo paisagismo da Praça Dr. Adhemar de Barros, em Águas de Lindoia, o cartão postal da Estância.
Além de paisagista, Burle Marx foi também artista plástico, pintor, escultor, designer de joias, figurinista, cenógrafo, ceramista e tapeceiro. Todas as facetas da sua obra podem ser apreciadas no SRBM, um grande laboratório de experimentações botânicas e artísticas.
Na propriedade também se encontram exemplares das 34 espécies que possuem relação direta com Burle Marx: duas delas descritas diretamente pelo paisagista, 16 nomeadas em homenagem a ele e outras 16 cujas descrições utilizaram materiais coletados nas expedições promovidas por Roberto.
Parte do acervo museológico do Sítio está disponibilizado em um banco de dados específico para registro, gestão, pesquisa e acesso público. Consulte aqui.
SÍTIO ROBERTO BURLE MARX:
Estrada Roberto Burle Marx, No. 2019 – Barra de Guaratiba CEP: 23020-255 – Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 2410.1412. Agendamento de visitas por e-mail: visitas.srbm@iphan.gov.br. Devido à pandemia, a visitas estão acontecendo em pequenos grupos, de 3ª feira a sábado, às 13h, 13h e 14h. São obrigatórios uso de máscaras, higienização das mãos, álcool em gel e distanciamento.
Foto: Vista aérea parcial do Sítio Roberto Burle Marx (Lago da Casa de Roberto). Foto: Marlon da Costa Souza – SRBM/IPHAN (divulgação)
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