TICO-TICO NO FUBÁ, por Celso Antunes
Uma valsa lenta contribuiu para que a cidade se tornasse divulgada e reconhecida pelo silêncio. A valsa “Tardes de Lindoia” pegou carona na fama do autor de Tico-Tico no Fubá e promoveu a Estância.
A cidade retribuiu, deu seu nome ao bosque, “Zequinha de Abreu”.
A música é melancólica.
Diz ela, o sol morre tristonho, um sino plangente toca, chama à prece, um ser humano sofre, sonha com o amor no silêncio das tardes.
Sinônimo de paz e sossego, o silêncio atraiu os hóspedes se consagrando como paraíso dos recém casados e lugar onde o pecado não existe.
Eram tempos de romantismo que desapareceram sem qualquer chance de voltar no barulhento mundo de motociatas dos dias de hoje.
O silêncio, por vergonha e medo, está no modo do lindoiense como no dizer caipira: o povo sofre calado.
De repente surge o grande problema mundial, a doença do vírus seguida de desemprego e fome.
Meia centena de lindoienses perderam as vidas, outros sofrem nos hospitais e nas residências, outros mais, ficaram sem trabalho e renda.
O último socorro do povo é o governo nacional, para isso ele existe.
O povo precisa ser vacinado e de auxílio emergencial mínimo de 600,00 reais para combater a fome.
O governo zanga-se “Que vá comer minhoca”, cantada na música, o povo é como o tico-tico no fubá.
O choque de humilhação e desprezo libertam o silêncio preso na garganta.
A cidade ouve o choro de criança que nasce, é o Movimento Vacina Comida.
É a voz da democracia lindoiense que faz coro com mais de 500 cidades nos protestos de julho.
O povo lindoiense entra na discussão do futuro do país e cumpre a profecia das tardes silenciosas de Zequinha:
“Lá no horizonte calmo
As nuvens se incendeiam
Num incêndio de luz”
*Celso Antunes, Águas de Lindoia (SP), escreve toda semana neste espaço.
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