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SOFRÊNCIA, por Celso Antunes

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SOFRÊNCIA

Sexta-feira, dia 5 de novembro, não foi  “hoje é sexta-feira!” pela trágica morte de Marília Mendonça que transformou a data em “Dia da Sofrência”.

Sofrência é a palavra juntada de sofrimento e carência que marca a música sertaneja com o subgênero “feminejo”.

Marília Mendonça é a criadora do feminejo que deu voz à mulher para contar sua vida de humilhação e denunciar graves transtornos psicológicos e sociais que passam.

A compositora explicou que se baseia em conversas com pessoas que a procuram para contar suas histórias e ela apenas mostra a direção a tomar.

A letra é esboço de um conto literário narrado por sua voz forte e determinada.

As histórias começam pelo sonho da mulher de se casar que leva à desventura.

Abandono, desprezo, humilhação, submissão, traição, violência, absurdos que consomem parte da sua vida e o que sobra, muitas vezes, vende na esquina se tornando a vergonha da família.

O amor que sonhou se casar um dia, ao vê-la, troca de calçada como diz a música.

Nesse suplício a alma feminina se esgota: “ninguém entende o que tô passando”; é a sofrência que leva à angústia, solidão, depressão, por vezes, ao suicídio ou feminicídio.

Marília Mendonça encoraja a mulher a reagir com seu canto: “Hoje a farsa vai acabar”. “Vai fazer o papel de trouxa outra vez”. “Se ele não te quer, supera. Se ele não te quer supera”, insiste.

Em oposição ao sertanejo machista baseado em vingança, o feminejo é justificado pela justiça.

A defesa da igualdade é processo civilizatório da sociedade, proclamar pátria e família com desigualdade da mulher, entre outras, é hipocrisia machista.

Porque mulher é vítima de discriminação social, sendo pobre e, racial, sendo negra.

Marília Mendonça é libertadora pelo fim do machismo e da aversão à mulher como o país vem sendo conduzido.

 

*Celso Antunes, Águas de Lindoia (SP), escreve toda semana neste espaço.

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