“O Avesso da Pele” é um romance recente de Jeferson Tenório * vencedor do Prêmio Jabuti em 2021.
O livro foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro e Material Didático (PNLD), sendo distribuído para professores e estudantes de escolas públicas em todo país.
A obra incorpora o contexto educacional pela importância civilizatória, pois a temática aborda o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras.
Numa passagem o autor ao abordar o sexo usa palavra popular o que motivou uma gaúcha, diretora de escola, a condenar o livro e disto gerar a reação da Secretaria de Educação do Paraná e de Goiás pela retirada do livro da biblioteca, em claro ato de ignorância.
Desse modo, ressurge a censura do Regime Militar de 64 em condições muito piores, a hipocrisia do moralismo politizado com base em dogma religioso dos radicais de direita.
Compete ao professorado a orientação que julgue na leitura da obra, mas não impedir que o estudante leia e entenda o racismo, a violência, a desigualdade e a forma de construção social da nação.
Censurar a obra em virtude de uma questiúncula faz supor que o pensamento conservador ainda considere normal negro acorrentado e o sofrimento do peso do chicote.
É evidente o retrocesso civilizatório que tem sido ensaiado no país como, ao se negar ao estudante a liberdade de escolha, ser impedido de elaborar pensamentos próprios para se tornar um cidadão integral ao invés de autômato.
Tal é o que se vê no projeto de lei de escolas cívico-militares do governador Tarcísio de Freitas enviado à ALESP, para agregar “civismo, brasilidade, disciplina” por suas próprias palavras.
“O Avesso da Civilização” – seria o bom título para toda essa realidade.
* Jeferson Tenório (1977), é doutorado em teoria literária pela PUCRS, autor de várias obras traduzidas para o inglês e o espanhol.
*Celso Antunes, Águas de Lindoia (SP). O autor da coluna escreve de forma voluntária e livre, crônicas e artigos pessoais sobre temática política, sociedade, comportamento etc.
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