Além da próstata, a saúde mental do homem é foco do Novembro Azul

Neste mês, a campanha Novembro Azul destaca a importância da prevenção ao câncer de próstata e a conscientização sobre a saúde integral do homem. Embora esse seja o segundo tipo de câncer mais comum entre a população masculina no Brasil, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma, muitos ainda negligenciam os cuidados gerais com a saúde.

De cada dez homens, oito (83%) reconhecem que precisam cuidar mais da própria saúde, como aponta a pesquisa “A Saúde do Brasileiro”, do Instituto Lado a Lado pela Vida, em parceria com o QualiBest. Para além da próstata, o movimento também é um convite para abordar a saúde mental, um aspecto frequentemente deixado de lado por causa de estereótipos culturais e do machismo estrutural.

O câncer de próstata é uma das doenças mais preocupantes para a saúde masculina, especialmente em homens a partir dos 50 anos. Os principais fatores de risco são a idade e histórico familiar, além do sedentarismo, a má alimentação, o tabagismo e consumo excessivo de álcool.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) calculam cerca de 71,7 mil novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil, para o triênio 2023-2025. Atualmente, essa é a segunda causa de óbito na população masculina, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. Estima-se que um homem morra a cada 38 minutos devido à doença.

A importância do diagnóstico precoce

E por que, mesmo com dados tão alarmantes, eles ainda resistem em procurar um médico? De acordo com o Dr. Davi Voller Seishum Abe, urologista credenciado Omint, o mito mais comum é que o homem compromete sua virilidade ao fazer o exame de toque retal: “Infelizmente, isto é fruto do preconceito de décadas, e ainda hoje alguns homens perdem a vida por não procurarem médicos para consultas preventivas”.

O diagnóstico precoce do câncer de próstata pode elevar a taxa de cura para 90%, sendo que em muitos casos os sintomas só aparecem em estágios avançados, tornando a prevenção ainda mais imprescindível. O Dr. Abe recomenda que homens com histórico familiar iniciem as consultas anuais preventivas aos 45 anos, enquanto aqueles sem fatores de risco podem começar aos 50.

“Ainda temos um longo caminho para vencer o preconceito e conscientizar os homens sobre a importância do autocuidado. Por meio de campanhas, operadoras de saúde e a sociedade em geral, podemos desafiar o tabu que faz com que muitos homens acreditem que doenças acometem apenas os outros”, reforça o médico.

Ele conta que atendeu um senhor agricultor bastante ativo, de mais de 90 anos, que sentiu uma dor na costela e, após algumas semanas, perdeu a força nas pernas e parou de andar. “Fui até o sítio em que este paciente morava. Ao final, detectamos um câncer de próstata avançado que se espalhou pela costela e pela coluna e, este na coluna, comprimiam a medula óssea, deixando-o paraplégico e com necessidade de sonda vesical, pois já não conseguia mais urinar”.

Apesar de a cura não ser mais possível, com radioterapia focal nas metástases da coluna e algumas medicações chamadas hormonioterapia, o paciente conseguiu voltar a caminhar com andador e a urinar sem sonda. “No dia em que isso ocorreu, ele chorava de alegria e emoção, e eu, junto, de satisfação”, lembra o especialista.

Além do câncer de próstata, o urologista destaca a importância de cuidar da saúde sexual, prevenir doenças como câncer de testículo e infecções urinárias, e acompanhar a saúde de maneira mais abrangente ao longo da vida. “O urologista tem um papel fundamental na vida do homem em várias fases, da infância à terceira idade”, afirma.

Saúde mental em foco

Para o Prof. Dr. Mario Louzã, psiquiatra credenciado Omint, a cultura de ‘homem não chora’ e outros estereótipos de gênero dificultam que eles busquem ajuda para problemas de saúde mental. A criação, desde jovens, muitas vezes envolve ideais de força e coragem, o que, embora valioso, acaba gerando barreiras para a busca de ajuda em situações de vulnerabilidade mental. “Os homens são educados desde a infância a acreditar que doença mental e emoções são sinais de fraqueza, o que os afasta da procura por apoio psiquiátrico ou psicológico, pois aceitar o diagnóstico ainda carrega um estigma de fragilidade. Esse é um preconceito muito arraigado na cultura”, explica.

O psiquiatra destaca que os transtornos mentais, como ansiedade e depressão, podem ter um impacto significativo na qualidade de vida dos homens, afetando desde as atividades profissionais até os relacionamentos pessoais. “A promoção da saúde mental passa pela clareza da necessidade de se cuidarem, seja porque têm um transtorno mental diagnosticado e precisam tomar medicação, ou porque estão passando por uma fase de vida difícil”, afirma o Prof. Dr. Louzã.

Nos casos em que o câncer de próstata afeta a qualidade de vida, provocando, por exemplo, problemas de impotência e controle da urina, o acompanhamento psicológico e psiquiatrico pode ser decisivo. “É fundamental para que eles se mantenham equilibrados e não caiam em processos depressivos ou de autodepreciação”, pontua. O especialista também destaca a importância de desmistificar a ideia de que problemas mentais refletem falhas de caráter, ajudando a criar uma sociedade mais acolhedora e informada.

O papel da prevenção

Uma alimentação balanceada, a prática de atividade física e a realização de exames preventivos regularmente são essenciais para a prevenção de diversas doenças, incluindo o câncer de próstata. Além disso, é fundamental desconstruir os tabus e incentivar os homens a buscarem ajuda médica quando necessário.

O Novembro Azul é um momento importante para refletir sobre a saúde masculina e a importância de cuidar de si mesmo de forma integral. Para garantir uma vida longa e saudável, é preciso que os homens superem os preconceitos e busquem apoio integral, seja ele físico ou mental. Conversar sobre preocupações com a família, amigos ou profissionais de saúde, bem como pedir ajuda quando necessário, são passos fundamentais para cuidar da saúde de maneira completa e preventiva.

Foto: Divulgação / Reprodução

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